Cronicas
Sobre a escrita
Luciana Konradt
Para alegria dos amantes da palavra, há algum tempo, intensificou-se o debate sobre o ato de escrever. Grupos de discussão literária têm debatido, com relevância, a chamada voz do escritor. Em resumo, poderíamos definir a expressão como a personalidade do autor, impregnada em sua obra, através da forma, da maneira autêntica e singular com a qual ele faz uso das diversas técnicas de escrita.
Outro tema importante é o estilo. Para Schopenhauer a primeira regra do bom estilo, uma regra que praticamente se basta sozinha, é que se tenha algo a dizer. E, ao fazê-lo, que se utilize de concisão. Aconselha ele não dizer tudo, mas apenas a quintessência, apenas os assuntos principais, nada do que o leitor pensaria sozinho. Para o mestre da escrita, fazer uso de muitas palavras para comunicar poucos pensamentos é sempre o sinal inconfundível da mediocridade.
Ao debate, acrescentaria, ainda, outro ponto. A responsabilidade social do escritor. A literatura deve ser um prisma a inundar a alma com leveza e poesia. Um sopro suave a provocar redemoinhos coloridos na mente e na retina. Mas, muitas vezes, a escrita deve, também, erguer a ponta do tapete e trazer, à luz, a poeira e as sujeiras escondidas. Ser, vez por outra, a mão que levanta a bandagem das feridas, dos cancros de uma sociedade desigual. A tela onde pintamos, com cores de dignidade, os esquecidos, marginalizados e invisíveis. Um exercício, quase utópico, mas, ainda assim necessário, para provocar indignação e semear, mesmo que para um único leitor, a ideia de um mundo melhor. De uma coletividade possível, igualitária, justa, plural, sem preconceitos e capaz de resgatar, em cada um de nós, o verdadeiro sentido da palavra humanidade.
Publicada originalmente no jornal Diário Popular, Caderno Estilo, edição dos dias 27 e 28/11/21
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